“Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus
de Nazaré! A vaca mansa dá leite, a braba dá quando quer. A mansa dá sossegada,
a braba levanta o pé. Já fui barco, fui navio, mas hoje sou escaler. Já fui
menino, fui homem, só me falta ser mulher. ”
Começarei usando os versos
de João Grilo em seu julgamento. Particularmente, acho um dos melhores momentos
da obra voltada às trapaças de João Grilo e Chicó, seu fiel companheiro. Porém,
ao mesmo tempo, podemos ver muito além das aventuras e peripécias desses dois
personagens, vemos também dois seres humanos tentando sobreviver e serem mais
fortes que as circunstâncias da vida.
Ariano Suassuna soube falar
do cotidiano do nordestino brasileiro ao enfrentar a fome, seca, miséria, o cangaço
e os fazendeiros autoritários que sugam o povo com trabalho braçal e pouca ou
até nenhuma remuneração.
João Grilo é a representação
desse povo que em meio a tudo isso mantém a força e a coragem de seguir em
frente sem deixar a alegria de lado e muito menos a esperança.
Claro que não poderia faltar
uma boa dosagem do humor regional com cenas que, segundo o autor, foram tiradas
de cordéis lidos por ele. O enterro da cachorra em latim, gato que
"descome" dinheiro e diversos outros são alguns exemplos da presença
desses cordéis na escrita forte de Ariano Suassuna que soube equilibrar muito
bem todos os atos da obra que se transformou em peça teatral, série de TV e
filme.
Claro, não podemos falar de
clássicos nacionais sem ler e comentar sobre “O Auto da Compadecida", que
mesmo sendo uma obra criada em 1955, se mantém moderna e atual desde o palhaço
cômico e carismático que a narra, até na abordagem de questões sociais ainda
presentes no cotidiano do nosso povo.
Fica a dica e boa leitura!
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