O sétimo livro da série
Bridgertons, de Julia Quinn, traz aquela que é considerada intoleravelmente
inteligente, com um humor mordaz desconcertante e dotada da imensa capacidade
de irritar até mesmo o mais devoto dos bispos: Hyacinth Bridgerton, a caçula da
família.
Acompanhamos seu
desenvolvimento desde a história de Daphne (Para ler a resenha de O Duque e Eu,
clique aqui) e muita coisa mudou daquele período para cá: entrando em sua
quarta temporada de debutante, Hyacinth não sente mais aquela animação de antes
para a temporada casamenteira de Londres. Embora sua personalidade siga inalterada,
para o bem ou para o mal, percebe que as propostas se tornaram de cada vez mais
escassas. Mesmo com o dote aumentado pelo irmão, ela faz os homens
terem o desejo de fugir para as colinas com sua personalidade forte e língua
afiada, o que é algo que qualquer moça remotamente parecida pode conseguir se
identificar, mesmo sendo este um romance de época.
Hyacinth reconhece que sua
mãe, Lady Bridgerton, só não está em completo desespero de ter uma filha adulta
de 22 anos solteira, porque sua irmã Eloise casou-se apenas aos 28 anos (A
resenha de Para Sir Phillip, Com Amor, encontra-se aqui). Tendo vivido numa
família com pais que se amavam e irmãos e irmãs que fizeram casamentos por
razões que vão muito além do que a sociedade londrina considera necessário,
como o amor, a jovem não aceitaria menos do que isso. E mais: queria um homem
que a respeitasse e a aceitasse sem se sentir o tempo todo ameaçado por sua
esperteza.
Sentiram o tamanho da
tarefa, em especial para a época de Hyacinth?
E é aqui que entra Gareth St.
Clair, neto de Lady Danbury, mais um abominável libertino de aparência
estonteante, filho do barão St. Clair e que parece ser um dos poucos a deixar a
caçula Bridgerton sem fala. Como vive apenas na companhia de cantoras de ópera e
de atrizes, as mães casadouras o temem ao mesmo tempo em que desejam que suas
filhas sejam aquelas que o tirem de sua vida dissoluta. O que poucas delas sabem, é que o rapaz não é de todo mau, já que existe um imenso amor entre avó
e neto, na mesma proporção em que pai e filho se detestam abertamente. Gareth é
um rapaz ferido desde a infância por razões totalmente fora de seu controle, me
lembrando um pouco nosso (amado) Simon Basset, o Duque de Hastings. Quando o
rapaz aparece diante de Hyacinth, numa de suas inúmeras tardes na Casa Danbury,
precisando de ajuda para traduzir o diário de sua italiana avó paterna, começam
uma busca frenética pela verdade e por um misterioso tesouro.
“Um Beijo Inesquecível” sustenta-se totalmente em cima dos diálogos ácidos e em pingue-pongue entre
Hyacinth e Gareth, que são uma delícia de ler, em especial quando entremeados
pela quase constante presença de Lady (Agatha) Danbury. De coadjuvante por seis
livros, aqui ela ganha uma proeminência bem-vinda não só pela impertinência e
zero filtro já conhecidos, mas porque é uma personagem muito amada
pelos fãs da série e que merecia esse destaque há bastante tempo. Hyacinth e
ela têm uma amizade que parece improvável para a sociedade, com encontros
semanais para leitura de romances ruins que ambas adoram, mas como as
acompanhamos este tempo todo, sabemos o quanto são parecidas e que o sonho de
Hyacinth é se tornar exatamente como a temida condessa quando envelhecer. E a
velha senhora não vai desistir tão fácil de unir seu neto e sua neta de
coração, o que sempre rende momentos hilários durante a leitura.
Este sétimo volume passa
voando pelos nossos olhos e tive a impressão de que é mais curto do que outros da série, mas acredito que seja pelo fato de não se concentrar apenas no aspecto
social da temporada na cidade e no romance, mas no misterioso diário e no
falatório de Hyacinth. Com isso, não estou dizendo que não haja momentos
românticos no livro – eles existem e fariam Lady Violet ficar lívida e obrigariam
Gareth a enfrentar os rapazes Bridgerton em diversos duelos até sua morte certa – mas não parecem ser o
foco dessa vez. A sedução e o erotismo, muito mais do que o romance, têm mais
espaço na narrativa e tem tudo a ver com o casal.
Julia Quinn imprime um ritmo
de “caça ao tesouro” conforme o diário vai sendo traduzido, aliado a diálogos
espirituosos, fazendo a leitura correr mais depressa do que o normal. O livro
termina com uma sensação de “quero mais” enorme e uma frustração absurda –
somente aquelas que já leram sabem do que estou falando! – que só será sanada
no nono volume.
Mergulhe sem medo na
história de Hyacinth, a caçula que eu gostaria de ter tido como irmã e
divirta-se mais uma vez com o talento desta autora maravilhosa!
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