Ficção e Romance Histórico
são dois dos meus gêneros de leitura favoritos desde a época da escola, quando
a matéria dada não dava conta das minhas questões a respeito do assunto e eu ia
pesquisar a respeito. O que começou como um exercício de mera curiosidade
acabou me levando, como sempre, de volta à literatura e descobri que havia
outras maneiras de “ler” a História: o período Tudor, as duas Grandes Guerras,
a construção de cidades milenares, as batalhas entre os cruzados e os mouros e
tantos outros, podiam ser revistos através dos romances. Munique é um livro que
faz parte desse escopo de acontecimentos que despertam a minha atenção e o
autor, Robert Harris, foca em um momento específico: O Acordo de Munique, em
1938.
Para contar essa história,
o autor se utiliza de dois personagens fictícios que se cruzam primeiramente
como estudantes em Oxford e, depois, em lados opostos da mesa de negociações:
Hugh Legat, secretário do primeiro-ministro inglês, Neville Chamberlain, e Paul
von Hartmann, diplomata alemão que está na comitiva do Führer, mas que pertence
a um grupo anti-Hitler. O livro é dividido em
quatro partes na forma de quatro dias, o autor construiu uma narrativa tensa e sufocante sobre um episódio considerado
ainda controverso, politicamente falando. Chamberlain e a Grã-Bretanha buscavam
a paz a todo o custo e mesmo que Hitler tenha, no fim, assinado o documento,
isso não o impediu de invadir a então Tchecoslováquia, seis meses depois. O
primeiro-ministro britânico saiu fortalecido em tese, mas a História acabou por
taxá-lo de fraco e ingênuo, pois a desonestidade do líder do Terceiro Reich não
foi suficiente para que Chamberlain conseguisse o apoio americano necessário
para os Aliados e saiu pela porta dos fundos da Downing Street, dando lugar a
Churchill.
Robert Harris é um
escritor-mestre na ficção histórica, com uma carreira de mais de vinte anos que
inclui clássicos como seu livro de estreia, “Pátria” (1992), e a Trilogia sobre
a vida do orador romano Cícero, concluída em 2015. “Munique” é um retorno
bem-sucedido do autor à Segunda Guerra Mundial e não seria surpresa se uma
adaptação cinematográfica deste lançamento estivesse nos planos de Hollywood,
como já foi feito com diversas de suas outras obras. Como afirmou em entrevista recente, Harris tem como objetivo “dar
vida ao passado e mostrar que foi uma história mais complicada do que a
imaginada pelo público” com o livro sobre o Acordo falido. Misturando os
jogos políticos com elementos dos romances de espionagem, ele conseguiu nos
transportar até aquele período e nos manter lá, de fôlego preso, até as últimas
páginas.
A interação entre Leget e
Hartmann é muito bem-feita, e o leitor sente-se parte da trama ao acompanhá-los
em todos os seus sucessos e retrocessos e mesmo sabendo antecipadamente que
tudo dará errado no fim, ainda assim, somos impelidos a permanecer na leitura.
Trata-se de um daqueles casos na literatura no qual o caminho é mais interessante
do que o destino, embora as duas primeiras partes – os dois primeiros dias –
exijam do leitor um esforço de concentração enorme, devido ao montante de
detalhes apresentados, enquanto as partes três e quatro fazem com que o nosso
empenho seja recompensado.
Não imagino maneira melhor
de apresentar Robert Harris aos leitores do site, caso ainda não o conheçam, do
que com este livro. E se você é um fã como eu, já sabe que pode mergulhar sem
medo em mais uma viagem histórica deste escritor.
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