Aproveitando o lançamento do
trailer da adaptação deste livro pela Netflix e a coincidência do nosso
Especial de Halloween, resolvi finalmente me aventurar naquela que é uma das
histórias mais originais que já tinha lido do gênero terror. É impressionante
constatar que esse é o romance de estreia de Josh Malerman, pois escreve como
um veterano e consegue prender o leitor até as últimas páginas – uma expressão
muito usada, mas que é totalmente aplicável aqui – com sua trama aterrorizante.
Imagine que você não vê o
mundo exterior há quatro anos. Seus filhos, da mesma idade, não conhecem o azul
do céu, ou o verde do gramado, mas apenas a escuridão por trás da faixa que
precisa, constantemente, cobrir seus olhos e os deles quando a necessidade os
leva para fora da casa abandonada onde vivem. Toda e qualquer porta ou janela
para o mundo exterior precisa estar cuidadosamente coberta e fechada, para a
sua própria segurança. Não há eletricidade, água corrente, comunicação, pessoas
que podem lhe ajudar ou governo para dar respostas. Você está completamente
sozinho e seus filhos pequenos que dependem unicamente de você para
sobreviverem.
Se já está suando frio,
bem-vindo ao acontecimento que é a leitura de “Caixa de Pássaros”!
Em resumo, o mundo
enlouqueceu – mais do que conseguimos imaginar – e a população foi acometida
por violentos impulsos assassinos/suicidas, muito piores do que os terrores com
os quais já estamos “acostumados”. Não se sabe como, onde ou exatamente o
motivo, havia apenas a suspeita de que “algo” ou “alguma coisa” provocava esse
efeito: bastava olhar para não se sabe o quê e o resultado era assassinato
seguido de suicídio. Mães matavam seus filhos, maridos às suas esposas e
estranhos barbarizavam a outros estranhos, deixando para trás um amontoado de
corpos e nenhuma resposta. A população mundial sucumbia gradativamente e aos
poucos sobreviventes restava se esconderem, cobrir os olhos e tomarem extremo
cuidado de nunca, em hipótese alguma, olhar o que quer que estivesse dominando
naquele momento.
Essa é a realidade da
protagonista, Malorie, e de seus filhos, Garoto e Menina (não esqueci os nomes,
é isso mesmo), quando nos deparamos com eles logo no início. Passeando em duas
linhas temporais e com capítulos enxutos, “Caixa de Pássaros” mexe com o terror
do não-visto, com aquilo que a nossa imaginação é capaz de criar apenas a
partir dos sons ao nosso redor. Esse, em minha opinião, é o pior tipo de medo e
a melhor maneira de contar uma boa história para assustar. Algo, alguma coisa
ou alguém estava por trás da derrocada de nossa civilização e o fato de ninguém
ter sobrevivido a uma única olhadela, só tornava a vida ainda mais
desesperadora, pois como lutar e assim sobreviver a algo que você não pode ver,
em hipótese alguma?
Encontramos Malorie no
momento em que ela está prestes a empreender uma arriscada fuga com seus filhos
pelo rio que fica alguns metros além da casa onde vive. Eles entram em um
barco, com a protagonista remando, enquanto seus filhos usam seus apurados
ouvidos para orientar a mãe no processo. Todos com os olhos vendados, buscando
um novo lugar para viver e talvez, livrar-se do que quer que tenha causado esse
apocalipse. Mais a respeito da história não vou dizer, pois
esta é uma experiência que precisa ser vivida pelo leitor e qualquer tipo de spoiler estragaria toda a ambiência
criada por Malerman.
As referência do autor ficam bem claras,
passando de Stephen King, que popularizou o terror psicológico, a nomes como o
clássico Lovecraft. A escrita é angustiante de se ler, a história consome de
uma maneira como há muito tempo não acontecia comigo e mesmo tendo seus
deslizes aqui e ali, não é nada que comprometa o resultado final. Este será o
companheiro perfeito para quem quer se deixar levar pelas paranoias, ansiedades
e o elementar medo do desconhecido de todos nós.
Recomendo e muito!
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