Sabem aqueles livros lidos mil vezes, com marcas de uso ou do tempo,
que você já sabe o final mas relê mesmo assim, porque são um tipo de “comfort book”? Um cobertor emocional para quando você não consegue
ler nada novo, ou simplesmente não quer mexer na pilha “não-lida”?
Se você é leitor, tenho certeza que sabe exatamente do que estou
falando.
Foi com esse
sentimento que minhas mãos se estenderam para o
livro de estreia de Jamie McGuire, “Belo Desastre”. Meu
exemplar já tem algumas coisinhas que denunciam sua “idade” – incluindo elementos da
história, mas disso falarei mais adiante -, contudo o amor entre Travis “Mad
Dog” Maddox e Abby “Beija-Flor” Abernathy ainda consegue trazer um pequeno sorriso ao
meu rosto. Há algo em um bad boy
apaixonado e uma mocinha relutante que parece não perder o encanto pra mim,
mesmo com o passar dos anos e dos livros similares. Mas, é inegável que o
“desastre” no título faz jus à história contada.
De forma
resumida, a narrativa se passa nos primeiros anos universitários de Abby e
Travis, aquele período de transição para adultos já tão explorado. Ela é o
protótipo da “boa menina”, com uma ideia muito clara de quem quer (aparentar)
ser, desde o modo de se vestir até o cuidado em escolher com quem se
relacionar. Ele é o garanhão da faculdade com uma péssima reputação, mas ótimas
notas, uma infinita lista de conquistas, tatuagens e um estilo de vida
completamente oposto ao de Abby. Ou assim parece. Os dois se encontram de uma
maneira considerada inusitada para a época de sua publicação, mas que hoje é batida. E qual maneira seria essa? Um círculo underground de
lutas, onde Travis é o grande macho alpha.
Depois de muitos músculos expostos, suor, sangue em cardigãs, diálogos ácidos, respostas espertinhas e uma
deliberada aposta, os dois acabam morando juntos. E é aí que o “belo desastre” começa. Como muitos
livros, a questão nem é muito “se” os personagens ficarão juntos, mas “como” e
“quando”. Mais ainda, “ficar junto” acaba em segundo plano diante de uma
possibilidade ainda mais atemorizante: conseguirão ficar juntos? Nem mesmo
Travis Maddox sabe se vai conquistar a garota, ou exatamente por quê a quer e
olhem que o cara é dono de um ego gigante. O que ele sabe é que as coisas
ficam melhores com ela ao seu redor e isso seria algo apenas egoísta da parte dele, se não houvessem sentimentos reais envolvidos.
Abby Abernathy
fugiu para ficar longe do tipo de vida na qual Travis é um especialista. Com uma língua afiada, determinada a se dar bem, focada no que
quer, Abby tinha MUITO potencial. Seu problema mais contundente como personagem
é o fato de deliberadamente negar seus próprios sentimentos e, às vezes, usar
os das pessoas contra elas mesmas e em seu benefício. Como torcer para alguém
que age dessa maneira? Que tenta, de todos os jeitos, justificar e reduzir o
que sente sobre o protagonista e que fica de joguinhos? Se eu tivesse que escolher, diria que mesmo
com comportamentos que atravessaram perigosamente a linha
“desequilibrado/stalker” muitas vezes, Travis me irritou menos do que Abby nessa releitura.
Quando o passado
da protagonista vem à tona, conseguimos entender melhor as motivações por trás
dessas ações de Abby e em sua insistência de “ser” alguém específico. Tive pena
do que ela passou, pois é o tipo de coisa que absolutamente NINGUÉM consegue
viver e não carregar marcas profundas. Só não consigo afirmar que foi o suficiente para justificar tudo de controverso que ela disse ou fez.
Por outro lado, o passado de
Travis não é menos traumático e suas formas de lidar com isso o colocariam no mesmo nível "desastre ambulante" de Abby. Por conta disso, o
relacionamento passou a parecer menos abusivo e mais “intenso” para mim. Sei que é uma
conclusão perigosa, e tenho minhas dúvidas se o livro seria hoje o sucesso que foi no passado, mas PELO
MENOS, tanto Abby quanto Travis sabem que não são lá muito “estáveis” e isso é falado abertamente. O nome de sua história
não é “Belo Desastre” à toa e é isso que os dois são, portanto, não é um
relacionamento a se ter como “modelo” a ser seguido.
Como ponto positivo, destacaria a miríade de
sentimentos que a leitura acarreta, e que ainda não desvaneceu com o tempo,
pois passamos do amor à fúria quase que junto com os personagens numa narrativa
vertiginosa, no limite e escaldante como seus protagonistas. De negativo, como
já citei, há atitudes que podem ser classificadas como não muito saudáveis e eu
gostaria que a autora tivesse explorado melhor alguns pontos em suas histórias
e deixado de lado o detalhamento constante das brigas e das idas e vindas dos dois.
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